
A temática sobre o peso da hereditariedade e do meio ou seja dos genes vs ambiente na inteligência, não é uma temática recente que pairará ainda durante algum tempo até ser superada.
Sobre esta temática muito há a dizer e observar sendo que, já não se trata de ambas serem peças individuais que lutam entre si na direção do comportamento humano, mas sim, assumir-se que ambas têm um papel impactante e inquestionável na vida do ser humano tanto no aspeto físico como psicológico, assim sendo, não faz sentido, falar só de hereditariedade ou só de meio.
Os mesmos estudos que revelam o peso da hereditariedade revelam também que há uma variação no seu peso de pessoa para pessoa, uma vez que cada ser humano difere do outro em inteligência e talentos, resultante de diferenças do meio, tais como os estímulos intelectuais e até mesmo no peso da dieta e das carências nutricionais em idades precoces que interfere no desenvolvimento cognitivo (Birch et al, 1971; Stoch et al, 1982; Brown w Pollitt, 1996)
No debate genes vs meio existem vários argumentos que são utilizados para negar a posição contrária, vão-se acumulando evidências de que o meio e os genes interagem intimamente na biologia do organismo, pois, os genes não se desenvolvem nem operam no vácuo. Os genes são instruções que serão seguidas de acordo com as condições do meio, sendo esta interação genes/meio de estrema importância nas primeiras fases do desenvolvimento. Não há um único organismo sem genótipo, assim como, esse genótipo não se pode manifestar independentemente do meio.
Recorrer aos genes como forma única para explicar o comportamento humano pode ser uma forma pobre de justificar a existência de qualquer aspeto da desigualdade humana, pois até mesmo nos casos de anomalias genéticas com manifestações físicas e psíquicas bastante significativas como é o caso da trissomia 21 com a devida estimulação cognitiva ou no caso da fenilcetonúria com o controlo alimentar os indivíduos podem tornar-se suficientemente inteligentes e aptos a viver em sociedade, uma vez que o cérebro está em perpétua remodelação.
Embora o ser humano possa treinar certas competências cognitivas aproveitando os recursos que o meio lhe oferece, também é verdade o contrário, em que os fatores e contextos sociais em que o ser humano vive, lhe entorpecem o rendimento das suas capacidades mentais.
Posto isto e tendo em conta que tanto a genética como o meio influem na inteligência do ser humano e que esta é inerente a tudo o que o ser humano faz no seu dia-a-dia de acordo com a cultura em que está inserido, segundo Gardner as inteligências podem ser múltiplas, pois, nem todas as culturas partilham de uma mesma preocupação, experiências, necessidades ou escolaridade que os faça aprimorar a mesma competência ou comportamento. Embora todas possam interagir para produzir um comportamento inteligente, cada uma funciona separadamente, segundo o autor, uma lesão cerebral pode provocar a perda de um tipo de inteligência sem afetar o outro.
Segundo Goleman a inteligência pode ainda ser emocional, no sentido em que o ser humano pode ser dotado de boas capacidades intelectuais e no entanto ser incapaz de controlar as suas próprias emoções e este autocontrolo e o reconhecimento das emoções alheias dependem de uma verdadeira capacidade de adaptação.
À medida que o tempo passa, o nosso corpo e mente mudam tanto como os ambientes em que estamos inseridos e o modo como nos relacionamos com eles, uma vez que também os genes nos acompanham e que estes influenciam o nosso nível de inteligência, ainda que sejam inalteráveis de acordo com os estudos, quanto maior for a exposição do ser humano desde a infância ao treino das suas competências cognitivas, maior será a sua capacidade na infância, juventude e fase adulta de se tornar mais inteligente e o mais funcional possível, uma vez que, a hereditariedade não implica que a inteligência esteja marcada desde o inicio, tampouco que as diferenças na inteligência medidas em grupos com diferentes níveis de desenvolvimento económico, social, industrial ou académico sejam fixas e inevitáveis, pois, não é inteiramente certo que os genes determinem a inteligência na pessoa adulta. Para James Flynn (1984), o QI humano está a experimentar um incremento continuo desde as primeiras medições em cerca de 3 pontos por década, o efeito Flynn está documentado em todos os países desenvolvidos, sendo esta uma prova notável da influência da genética e do meio no que refere à atividade cerebral e ao comportamento e da importância da qualidade do ambiente e da riqueza fundamental dos estímulos.
Não somos pois só e unicamente o resultado do que a genética dita, mas sim, o resultado de uma mistura única e individual da sociedade, família, professores, amigos, cultura, meio societário, grupos, vontade, vida e genes. Todos somos únicos, todos somos um todo.
IG
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