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O ser humano é um animal social

Atualizado: 11 de mar. de 2022


É através da relação com os outros ou seja da socialização, que os comportamentos são apreendidos, influenciados, reforçados ou inibidos, que se aprendem as regras, que se forma a personalidade, as formas de conduta em sociedade, desde a infância à fase adulta. Os grupos como agentes de socialização, tem um impacto relevante na modelagem dos comportamentos e atitudes individuais dos sujeitos no decurso da sua vida.

Na história da humanidade, apenas é exigido de forma compulsória a um animal social como o ser humano que proceda ao isolamento de quase todos os agentes de socialização, família, trabalho, escola, quando acomete um crime danoso ou aquando de uma catástrofe como uma guerra. Ainda assim existe aqui uma distinção substancial entre estes dois exemplos e o momento que se vive atualmente.

Quando se comete um crime existe uma real perceção do que poderá vir a suceder dado o grupo em que o individuo se encontrava inserido. O individuo aceita comportamentos e desvios comportamentais, de forma a ser aceite pratica-os com a noção de que poderá ser sancionado ou não, pois nem todos os desvios são crime e este pode aplicar apenas ao individuo ou às atividades de grupos. Ao acometer de um crime em que os agentes de socialização reconhecem como tal, será sancionado poderá ser detido numa intuição, com vista melhorar a sua conduta. São as prisões questionadas na resposta adequada ao crime uma vez que o individuo se encontra isolado parcialmente de outros importantes agentes de socialização como a família, trabalho ou escola. Este tipo de isolamento social é assim contestado por criar uma barreira com a sociedade exterior.

Quando em cenário de guerra, os indivíduos preferencialmente em grupos por ser mais seguro e fácil perpetuar a sobrevivência e a subsistência, tentam adaptar-se aprender as novas regras do novo contexto social em que se encontram inseridos. Também aqui existe um isolamento de forma parcial, no entanto o inimigo é real, e á algo que o ser humano consegue visualizar, estruturar e idealizar pois existem modelos anteriores de referência, o mesmo se passa com o exemplo anterior da detenção.

Atualmente o inimigo é invisível, difícil de compreender, não há referência anteriores por parte dos agentes de socialização como referência ao modo de ser, estar, enfrentar e reagir a esta nova realidade. Não existe para o ser humano a capacidade de percecionar o que irá suceder. Uma realidade contrária à criada pela sociedade contemporânea em que se auspiciava paz, desenvolvimento da ciência com consequente aumento da esperança média de vida.

A trajetória de vida de um individuo é influenciada pela sociedade em que se encontra inserido, pelas diferenças culturais bem como, pelas realidades materiais, pois a classe social, etnia e género são fatores que influenciam o trajeto de vida do individuo, também as coortes tem um papel de relevo ao influenciar a trajetória de vida dos indivíduos com experiencias comuns, no momento actual a experiencia comum numa escala global de forma nunca antes vivenciada, foi o isolamento social compulsório na contenção do COVID-19 e as intercorrentes medidas até que se encontre uma vacina ou se atinja a imunidade de grupo.

Na sociedade contemporânea é preocupação constante o isolamento social principalmente na velhice, devido ao importante papel da socialização na contribuição da sua personalidade social. Muitos dos reformados ocupam-se de tarefas como cuidar dos netos, ajudar os filhos, voltar a estudar ou outras atividades que lhe dá o sentido de utilidade e inserção na sociedade, que lhes atribui um papel social.

Foi até então fomentada a socialização e neste momento sem exemplos ou experiencias anteriores de referência comportamental e ideológica a ser seguida é pedido que se estabeleça por tempo indeterminado a contenção dos idosos nos seus padrões sociológicos enraizados e na manutenção do isolamento social.

A pandemia com risco acrescido para os idosos, vem evidenciar as estratificações sociais, as desigualdades, os problemas de solidão, dificuldades monetárias, de subsistência e apoio domiciliário. O maior agente de socialização, os Mídea, tem como mote diário a morte, medo, crise e consternação social acirrando a condição etária. São assim constantemente confrontados com as suas fragilidades à mercê das suas mentes mais ou menos fantasiosas e das emoções que poderão ter desfechos inesperados no surgimento de patologias de foro neurológico, sendo este novo papel social atribuído aos idosos estigmatizante mas necessário, aumentando a sua vulnerabilidade, dependência e afetando a identidade pessoal.

Encontramo-nos perante um idadismo necessário, proteger os nossos idosos por serem os que incorrem num maior risco mortalidade.

Houve algo que se tornou fonte de preocupação, os idosos remodelaram este novo papel que lhes é atribuído e recusam-se a ficar em isolamento, optaram por ter um comportamento criminal desafiante à autoridade estabelecida, recusando assim o confinamento obrigatório, mantendo a maioria das suas rotinas como o irem às compras diariamente algo que lhes dá a falsa sensação de controlo, juventude, independência e saúde.

O certo é que o ser humano na sua maioria e dependendo da sociedade em que se encontre, não se quer confrontar com a velhice, uma prova deste facto é a indústria cosmética e estética que se encontra em constante evolução e expansão na promoção de formulas mágicas contra o inevitável envelhecimento.

Foram tomadas medidas de forma a ter em conta estas preocupações e tanto associações como voluntários civis encetaram uma ajuda ao idoso no sentido de tentar promover o seu acompanhamento social no suprimento das suas necessidades e vigilância, assim como por parte das autoridades que não sancionam os idosos desviantes em crime de desobediência.

Será pois esta fase de confinamento e proteção aos idosos objeto de futuros estudos das demais ciências sociais, assim como deixará uma importante marca como se de uma guerra se tratasse, nos futuros modelos de como passaremos a ver e a interagir no mundo.

IG

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Texto escrito a 06/05/2020

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